A Índia é um paradoxo!!! Recebi hoje, notícias da Índia, vindas de brasileiras que expressam seus pontos de vistas após experimentarem um pouco do país.
As impressões eram completamente opostas, oscilando entre maravilhamento e desencantamento! Nesses anos de comunhão com esse país, tenho ouvido relatos de diferentes experiências na Índia.
Fui para a Índia pela primeira vez com 23 anos, logo após concluir minha universidade de comunicação, na esperança de conseguir uma vaga no Pune Film Institute, afim de estudar cinema no maior produtor de filmes mundial.
A primeira vez fora do Brasil, vivi como estudante estrangeira durante seis meses, tentando entender aquele “universo à parte” no qual estava inserida.
Meu olhar estrangeiro mostrava muitas coisas “malucas”, às vezes sem sentido e estranhas. Minha tentativa de distanciar-me de minha identidade cultural, que fazia com que minha mente trabalhasse comparativamente, ajudou a aproximar-me “do outro” com mais intimidade e discernimento, proporcionando momentos de clareza e paixão por aquela terra misteriosa.
Esse exercício diário de distanciamento, abriram portas magníficas e revelaram grandezas incomparáveis da cultura indiana, que vão muito além de valores mundanos que muitas vezes acabam atrapalhando a observação do outro como ele realmente é. Ou seja, fazem parte de um jogo mental, que nos faz enxergar as coisas com os olhos da mente.
Isso me faz lembrar a história de Sangayya, um disciplinado devoto do deus Shiva, que via o deus em todas as coisas. Certo dia a curiosidade do rapaz, o levou a seguir algumas cortesãs acreditando que as moças realizariam ritual ao grande deus. Foi levado pela suntuosa Saumatri até seus aposentos, onde o rapaz enxergou na cama o trono de Shiva, e a cortesã como sua atendente e grande devota de Parvati, a consorte do adorado deus. Para cada detalhe do aposento, enxergava o templo do deus e a cada gesto da cortesã atribuía aos rituais sagrados. Durante toda a noite realizou uma grande cerimônia à Shiva.
Essa bela história relatada detalhadamente no livro “Uma escada para o Conhecimento” , do escritor francês Ariel Glucklich, nos mostra que tudo está relacionado com a maneira que conceituamos nossa percepção.
A partir do momento que a Índia passou a ser vista por dentro , consegui admirá-la e compreender porque esse país atrai tanta gente nesse mundo.
E isso aconteceu também graças ao encontro com o indiano Jyoti, que tornou-se meu parceiro e pai de meus pequeninos Shiva e Lalita. Mas esse encontro é uma outra história, de amor, que será contada aqui em algum momento futuro. Enfim, acabei vivendo na Índia por quase dois anos sem retornar ao Brasil.
Na Índia tem muito de tudo o que podemos imaginar. É um país contraditório. E só entendemos a devoção à Shiva, quando por lá passamos. O deus forma a trindade hindu, junto com Brahma e Vishnu. Shiva é o deus da destruição e da construção. É uma coisa e seu oposto. É divino, mundano, sexualizado e ascético, sublime e excêntrico. É a própria personificação do paradoxo!!!
E é dele e de sua grande festa Shivaratri, que acontece em poucos dias, que falaremos em breve!!!!
domingo, 24 de fevereiro de 2008
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